segunda-feira, 16 de maio de 2011

A dor-fantasma

Quando há a sensação de dor no membro amputado, denomina-se o fenômeno de dor fantasma, que é a consciência de dor na extremidade amputada. 


Segundo Fisher5, a dor no membro-fantasma pode ser prevenida quando os pacientes são encorajados a expressar o sofrimento da perda, o que nos remete ao valor não só fisiopatológico, mas emocional da dorfantasma. Teixeira et al.6 relatam que a sensação-fantasma funcionaria como uma alucinação nos sujeitos com dificuldade em aceitar a mutilação, e a dor-fantasma seria como um sonho e o desejo de preservar a integridade anatômica corporal. Neste sentido, a sensação-fantasma no paciente amputado também pode ser entendida como uma tentativa de reintegração corporal. No entanto, nos casos de dorfantasma, esta tentativa não pode ser considerada positiva ou produtiva. Segundo Zereu7, muitas vezes a dor-fantasma impede o processo de reabilitação, além de não ser condizente com uma visão real da deficiência, na medida em que nega esta e prejudica o estabelecimento de novas condutas adaptativas diante da deficiência, causando danos na reabilitação global do paciente amputado. A mudança de alguns valores internos já estabelecidos, referentes tanto a situação de perda como da auto-imagem e da auto-estima, deve ser trabalhada para propiciar melhor elaboração e aceitação da perda ocorrida, bem como enfrentar a depressão decorrente da situação. A elaboração de uma nova imagem corporal pode ocorrer de várias formas. A dor-fantasma, mesmo não sendo a forma mais produtiva, é uma dessas. Pela dor, o indivíduo nega a amputação e revive a experiência de ter o corpo intacto. Segundo estudos de Pucher e Frischenschlager8, 89,3% dos pacientes com queixas de dor no membro-fantasma retrataram-se no desenho de sua auto-imagem corporal de forma íntegra, negando a amputação, o que sugere que pacientes que negam sua amputação sofrem mais de dor no membro-fantasma do que aqueles que puderam reintegrar sua imagem corporal, aceitando a deficiência e os limites impostos por esta (destes, apenas 50% desenharam-se de forma intacta). Da mesma forma, Racy² aponta que, a partir da análise dos sonhos e dos desenhos de autorepresentação corporal, pode-se perceber que os pacientes que se adaptaram bem à amputação retrataram-se no desenho da figura humana com o membro bem curto ou amputado e incorporavam as próteses ou a falta do membro nos sonhos, enquanto aqueles que estão mal adaptados desenharam-se de forma intacta, sem a amputação, e mostravam grande preocupação com o membro amputado durante o sonho. Racy² e Jiménez9 também referem que a sensação e/ou a dor-fantasma não são observadas naqueles pacientes que nasceram com a falta de um membro e naqueles que tiveram a perda do membro ainda muito novos. Afinal, a amputação nestes casos não representava a perda da integridade corporal, haja vista que estes pacientes ainda não haviam formado uma imagem corporal que integrasse o membro perdido. Além disso, sabemos que nossos conflitos escolhem órgãos que estejam a eles ligados para sua expressão corporal; deste modo, a dor-fantasma pode expressar o conflito central do paciente diante da amputação, já que esta ocorre no membro amputado, e não em outro órgão qualquer. Assim, a dor-fantasma no paciente amputado pode representar uma tentativa de o indivíduo sentir-se ainda intacto, negando a amputação, mas não se mostra uma alternativa adaptada e produtiva, posto que, além de ser uma falsa percepção de si próprio, o que causa danos na reabilitação global do paciente, a amputação mostra-se a todo momento ao indivíduo. Como vemos, a aceitação da deficiência física e a conseqüente reintegração corporal implicam também num movimento psíquico de integração dos aspectos sombrios da personalidade. Porém, este é um processo lento e que exige a elaboração do luto pela perda do membro amputado e a possibilidade de o indivíduo voltar a amar-se e a aceitar-se com o corpo agora mutilado, convivendo assim com suas limitações e aspectos da personalidade inaceitáveis, até então, pelo ego. Conclusão Os seres humanos, por natureza, são diferentes uns dos outros. No entanto, há uma limitada tolerância para estas diferenças; quando excessivamente diferentes, algo deve ser evitado. A deficiência física e sua marca corporal evidenciam a diferença entre o inteiro e o fragmentado, o perfeito e o imperfeito, e está carregada de estigmas e valores preconceituosos, o que coloca o deficiente físico às margens da sociedade. 




Há receios velados quanto às prováveis conseqüências da vinculação ou convívio com o deficiente. Para muitos, a aproximação com o deficiente físico traz a dor de um possível futuro que ninguém quer para si, traz ameaça à tranqüilidade, ao bem-estar, ao sentido de estética e à segurança pessoal e familiar. Neste contexto pode-se pensar quão difícil pode ser viver amputado em nosso meio social. Afinal, além da desvalorização social do deficiente físico, este também traz alguns valores acerca da deficiência que acabam denegrindo sua auto-imagem e dificultando a aceitação de sua deficiência física. Todo esse enredo cria um cenário em que a dor-fantasma pode parecer ao paciente amputado, mesmo que inconscientemente, uma saída viável para a vivência de integridade corporal. Entretanto, como já foi discutido, não parece ser uma saída produtiva ao paciente no processo de reabilitação. O fato de a dor-fantasma ser um fenômeno não puramente físico, social ou psíquico, mas a integração destes três fatores, nos remete à importância de um tratamento multidisciplinar, em que médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista, psicólogo, assistente social, professor de educação física e técnico protesista devem trabalhar em equipe visando o desenvolvimento e a participação ativa do paciente em seu tratamento. Na psicologia, além da psicoterapia breve, pela qual há a expressão e a elaboração de sentimentos depressivos, em que o paciente pode vir a lidar melhor com a sua perda física de forma produtiva ao processo de reabilitação, pensa-se na utilização de técnicas de relaxamento, para uma maior consciência corporal, como técnica auxiliar dentro do processo psicoterápico. Todo o processo de reintegração corporal no paciente amputado requer a elaboração do luto: o luto pela perda física e o luto por projetos para o futuro, pelo autoconceito, pela imagem corporal, que, portanto, ocorre paulatinamente. Sabe-se que a negação é um mecanismo de defesa usado em uma das fases de elaboração do luto, que pode ser saudável no processo de luto do paciente amputado. O que este trabalho procura mostrar é que esta negação, quando usada de forma maciça, revelando-se muitas vezes pela dorfantasma, pode ser prejudicial ao processo de reabilitação global do paciente amputado, na medida em que não condiz com uma visão real do corpo do paciente. Isto ocorre, pois a negação deve ser uma fase do processo de luto, e não uma solução para as frustrações do paciente. Mesmo parecendo um longo e árduo caminho, o processo de reintegração corporal do paciente amputado que pré-possibilite aceitar sua perda traz uma riqueza inestimável ao paciente: a possibilidade de voltar a se amar e a amar o seu corpo com a amputação e apesar dela.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Aplicativo ajuda médico a diagnosticar derrame pelo iPhone


Com o programa, o médico pode, longe de um laboratório, analisar imagens de uma tomografia, por exemplo. Exatidão do resultado fica acima de 94%

Diagnóstico: com o aplicativo, os médicos são capazes de acessar e manipular os exames feitos de outro local em segundos

A Universidade de Calgary, no Canadá, desenvolveu um aplicativo que permite a um médico usar seu iPhone para diagnosticar derrames cerebrais com praticamente a mesma exatidão de quando o especialista está em um laboratório. A universidade afirmou que o aplicativo – denominado Resolution MD Mobile –, que também está disponível para uso em aparelhos que utilizam o sistema operacional Android, pode ser de grande utilidade no meio rural.

Pelo programa, o médico pode analisar imagens de uma tomografia, por exemplo. "O aplicativo permite uma visualização avançada. As pesquisas mostram que a exatidão do resultado fica acima de 94%, comparado aos diagnósticos emitidos em laboratório, para o caso de derrames agudos”, diz o médico Ross Mitchell, que desenvolveu o software. Mitchell explicou que, em uma emergência, a qualidade da representação de imagens médicas desempenha um papel importante no diagnóstico e no tratamento. 

As conclusões de Mitchell estão baseadas em um estudo realizado pela médica Mayank Goyal, também da Universidade de Calgary, no qual dois neuroradiologistas analisaram, em laboratório e pelo iPhone, 120 exames de tomografia computadorizada não contrastada e 70 angiografias de tomografia computadorizada. 

O software está sendo criado pela Calgary Scientific. A companhia prevê que, nos próximos dois anos, mais de 50.000 hospitais terão instalado o programa em suas redes.

Para o chefe da disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Antônio Carlos Carvalho, aplicativos como o Resolution MD Mobile facilitam o acesso e aceleram o diagnóstico. "Dificilmente haverá alguém especializado para diagnosticar um derrame na periferia ou no interior. O alcance da telemedicina é maior e, se a tecnologia proporciona o acesso, é importante."


Fonte: Revista Veja.
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Preparação Física no Jiu-Jitsu ou parte técnica: qual é o mais importante para o alto rendimento?


Muitas vezes escuto diversos atletas de elite afirmar que, para eles, o elevado preparo físico é o fator principal que os distingue de outros atletas de nível inferior.

Em artigo anterior, havia abordado superficialmente este assunto. No entanto, resolvi retomar o tema associando a estudos realizados com outra modalidade.

Claro que o preparo físico garante o lastro necessário para melhor desempenho técnico-tático. Contudo, será que nas lutas, no alto nível, ou seja, atletas de elite (com títulos relevantes em competições oficiais) ou “superelite” (colocados somente em primeiro lugar em competições relevantes e oficiais), a preparação física é mais importante (ou relevante) que a preparação técnico-tática?

Bom, pelo menos no caso específico do Judô e Jiu-Jítsu, estudos prévios mostram que a técnica ainda é o diferencial entre atletas de alto nível.

No Judô, por exemplo, foi observado por intermédio de avaliação física, que não havia entre os titulares e reservas da seleção olímpica brasileira (atletas de elite e “superelite”) diferenças físicas significativas entre eles, sugerindo que o principal aspecto que os distinguia era técnico-tático e/ou psicológico.

Além disso, nessa modalidade (ainda no alto nível), comparando atletas juniores faixa marrom com seniores faixa preta, observou-se que, enquanto os lutadores graduados com a faixa marrom projetavam, em média, para 2 direções diferentes, os seniores faixa preta projetavam para 3.

No Jiu-Jitsu, um grupo de pesquisadores conduziu estudo com 23 atletas, no qual realizaram avaliação física para verificar se os aspectos relacionados ao preparo físico (força, resistência muscular, etc.) poderiam ser correlacionados com desempenho vitorioso nesse esporte. Por fim, concluíram que maior nível técnico poderia ser correlacionado ao melhor desempenho e não, especificamente, às características físicas.

Concluo esse artigo, baseado nas evidências, recomendando que, na dúvida, treinem mais e corrijam aspectos técnico-táticos do treinamento. Apesar da relevância primordial nas lutas, a preparação física deve ser considerada complementar e não a atividade principal do planejamento do atleta de alto rendimento.

Músculos mais solicitados no Jiu-Jitsu

Rickson Gracie.
Um estudo foi realizado para descobrir, baseando-se na percepção subjetiva de esforço de atletas de Jiu-Jitsu, quais seriam os músculos mais solicitados nessa modalidade.
Os resultados podem facilitar o trabalho de preparo físico e de recuperação (massagem, etc.), pois os profissionais podem realizar a prescrição com base nesses achados.
Seguem os resultados:
1) Antebraços - 24%;
2) Deltóides (ombros) - 14%;
3) Bíceps - 10%;
4) Quadríceps - 10%;
6) Região Lombar - 10%;
7) Região abdominal - 5%;
8) Tríceps - 5%.
P.S: Também foi verificada a solicitação do grande dorsal ("costas"); entretanto não obtivemos os dados.

Treinamento aeróbio específico Jiu-Jitsu

Há muita discussão referente à necessidade de serem utilizados exercícios e métodos para desenvolver aptidão aeróbia* de lutadores. Há poucos anos, diversos autores ainda classificavam as lutas como modalidades predominantemente anaeróbias** e, por isso, muito do treinamento aeróbio era negligenciado e, de fato, muitos técnicos e preparadores orientavam os atletas para não priorizar esse trabalho. Em investigações mais recentes, observou-se que a contribuição aeróbia para o exercício é acionada antes do que se pensava, repercutindo que, nas lutas, a predominância seja aeróbia e não anaeróbia (apesar de a aptidão anaeróbia ser determinante para o desempenho). Logo, para encurtar discussões mais longas referentes a isso, ressaltamos que o treinamento aeróbio é essencial para lutadores. A pergunta certa não é se deve fazer, mas quando e como realizá-lo. Exercícios não específicos como corridas contínuas, ciclismo, natação, sprints (ou “tiros”) de corrida são bons referenciais para que o atleta atinja boa base de aptidão aeróbia. No entanto, existe pouca transferência desses exercícios para a realidade de um combate, incutindo que meios e métodos alternativos de treinamento sejam utilizados para que se atinja com plenitude o objetivo, ou seja, desenvolver aptidão aeróbia em posições ou golpes específicos do Jiu-Jítsu.

*exercícios de característica aeróbia: podem ser classificados nesse contexto os exercícios realizados com duração superior a 45 segundos;

**exercícios de característica anaeróbia: podem ser classificados nesse contexto os exercícios de curta duração (até 10 segundos) e de duração intermediária (entre 15 e 45 segundos).

Para simplificar, segue exemplo prático de treinamento aeróbio com exercícios específicos para atletas de Jiu-Jítsu:

Obs: Para atingir a zona de trabalho recomendada, sugerimos que seja monitorada a freqüência cardíaca do lutador, utilizando-se um cardiofrequêncímetro (Ex: marca Polar). Aconselha-se que o treinamento aeróbio seja realizado de uma a no máximo três sessões semanais e nos dias em que não houver trabalho de preparo físico com ênfase em força e potência muscular e/ou treino técnico de luta, em intensidades elevadas. O trabalho com exercícios específicos deve ser realizado de 100-130% do VO2 máx. (potência aeróbia máxima), ou seja, acima de 180-190 bpm (batimentos por minuto).

É recomendado que seja realizada avaliação física e médica antes de iniciar esse trabalho, pois os exercícios realizados nessa zona implicam sobrecarga ao aparelho cardio-respiratório, que, em geral, somente atletas de elite suportam. O atleta deve realizar 4 vezes a sequência dos exercícios-exemplo propostos adiante, sem intervalo para descanso após cada sequência. Atenção: após realizar os cinco exercícios específicos se considera que foi realizada uma sequência completa!

1.º) Após 5-10 minutos de aquecimento, o atleta realiza durante 45 segundos com o máximo de velocidade e com o companheiro de treino se deslocando bastante, exercício de entrada de queda ou Uchi-Komi (Figuras 1 e 2) e, logo após, recuperação ativa: corrida por 45 segundos com frequência de 150-175 bpm (batimentos por minuto);
Uchi-Komi
2.º) Após a corrida da etapa anterior, sem descanso, o atleta realiza durante 45 segundos com o máximo de velocidade, o exercício de entrada de queda denominado de Tackle (Figura 3), no qual suspende o companheiro de treino, porém, não o projeta ao solo. Mais uma vez, o companheiro de treino deve se deslocar bastante. Logo após o exercício específico, realiza recuperação ativa: corrida por 45 segundos com frequência de 150-175 bpm (batimentos por minuto);
Tackle
3.º) Após a corrida da etapa anterior, sem descanso, o atleta realiza durante 45 segundos o exercício de raspagem de gancho (Figuras 4 e 5) com o máximo de velocidade. Logo após, realiza recuperação ativa: corrida com frequência de 150-175 bpm (batimentos por minuto);
Raspagem de Gancho
4.º) Após a corrida da etapa anterior, sem descanso, o atleta realiza durante 45 segundos o exercício de subida para abrir a guarda do adversário (Figuras 6 e 7) com o máximo de velocidade. Logo após, realiza recuperação ativa: corrida com frequência de 150-175 bpm (batimentos por minuto);
Subida p/abrir guarda fechada
5.º) Após a corrida da etapa anterior, sem descanso, o atleta realiza durante 45 segundos o exercício de supinar o adversário (Figuras 8 e 9) com o máximo de velocidade. Logo após, realiza recuperação ativa: corrida com frequência de 150-175 bpm (batimentos por minuto).
Supinar p/saída do cem quilos

Características funcionais de atletas de Jiu-Jítsu


O colega Raphael Benassi publicou um artigo recente sobre algumas evidências observadas por meio de suas avaliações realizadas com atletas de Jiu-Jítsu. Agradecemos pela gentileza de enviar o artigo, no qual divulgamos neste Blog as partes principais para os interessados.

Título: Características morfo-funcionais de crianças e adolescentes, atletas de jiu-jitsu

Autores: Prof. Raphael Benassi & Prof. Dr. Alexandre Herculano Borges de Araújo

Fonte: http://www.efdeportes.com



Introdução


O Jiu-Jitsu é uma luta de origem japonesa cujo objetivo é, após projetar o adversário ao solo, dominá-lo utilizando técnicas de imobilização, posições de estrangulamentos ou chaves articulares. As técnicas de estrangulamento e de chave articular, quando efetivamente aplicadas, tendem a fazer com que o adversário desista do combate, sinalizando com a batida no solo. Nessa modalidade todos os atletas são subdivididos de acordo com sua graduação técnica (faixas) e sua massa corporal. Um dos princípios do Jiu-Jitsu está na utilização de movimentos que constituem alavancas mecânicas, possibilitado que um indivíduo que possua menor nível de força muscular possa derrotar um adversário com níveis mais altos dessa qualidade física, porém que detenha menores níveis de habilidade nas execuções das técnicas (FRANCHINI, E.; TAKITO, M. Y.; PEREIRA, J. N. C, 2003).

Apesar do grande sucesso desta arte marcial, poucos estudos foram publicados sobre essa modalidade esportiva (DUBAS et al., 2002; GULAK et al., 2003; MOREIRA et al., 2001; MOREIRA et al., 2003; SILVA et al., 2003). Tendo em vista tal escassez científica, muitos questionamentos são apresentados, entre eles qual o perfil morfo-funcional de atletas em idade escolar, praticantes dessa modalidade?

Sendo assim, o objetivo geral deste estudo foi o de identificar características morfológicas e de aptidão física de praticantes de Jiu-Jitsu. Especificamente o estudo investigou as medidas antropométricas básicas, como estatura, massa, composição corporal e maturação sexual e os padrões de aptidão cardiorrespiratória e de aptidão neuromuscular, em praticantes de Jiu-Jitsu com idade entre oito e dezoito anos.

Materiais e métodos

Este estudo foi realizado com o delineamento descritivo, que objetiva descrever uma determinada situação em uma determinada circunstância (THOMAS & NELSON, 2002).

A amostra foi composta por 52, com idades compreendendo entre 10 e 17 anos, estudantes saudáveis, do sexo masculino, pertencentes à rede pública municipal, estadual e privada de ensino do município do Rio de Janeiro, moradores do bairro de Campo Grande, regularmente inscritos e ativos no programa de iniciação esportiva da modalidade Jiu-Jitsu, desenvolvido em um centro esportivo municipal localizado no referido bairro.

Para avaliação da massa corporal e estatura da amostra, foram utilizados uma balança clínica eletrônica, com precisão de 0,1Kg (Filizola®, Brasil) e um estadiômetro portátil, modelo personal portátil (Sanny®, Brasil) com capacidade máxima de 204 centímetros e variação de 0,5cm.

Para mensuração do nível de aptidão cardiorrespiratória (Vo2máx), foi utilizando um cardiofreqüencímetro modelo M52 (Polar Oi®, Finlândia), utilizando o recurso Polar Ownindex® que realiza este tipo de teste sem a necessidade de esforços físicos.

Para a avaliação da Força de Preensão Manual foi utilizado um dinamômetro hidráulico manual, marca JAMAR® (Asimow Engineering®, EUA)

Para avaliação da potência de membros inferiores foi utilizada uma trena com precisão de 0,1cm (3M®, Brasil), em uma pista construída no solo com fita adesiva (3M®, Brasil), compreendendo uma área livre de três metros de comprimento.

Como critérios de inclusão no estudo ficou determinado que os participantes não pudessem estar praticando nenhuma outra atividade física sistemática além do Jiu-Jitsu, que deveriam estar em estado ativo na referida atividade por um período mínimo de vinte e quatro semanas, participando normalmente do programa de prática esportiva no referido complexo esportivo, independente de sua graduação técnica.

Análise e discussão dos resultados

Nas análises indiretas do consumo máximo de oxigênio (Vo2máx), os sujeitos apresentaram score médio de 39,5±3,7 ml/kg/min-1. Em relação ao teste de potência de membros inferiores e força de preensão manual, os scores alcançados foram de 1,9±0,4m e 35,4±14,0 Kg/f, respectivamente.

O IMC apresenta em crianças e adolescentes significativas variações relacionadas à faixa etária e maturidade sexual. Esta variável tem sido utilizada com frequência como instrumento indicador de obesidade nesses grupos (HIMES & DIETZ, 1994), apresentando significativas correlações com medidas das dobras cutâneas e densitometrias gerais neste grupo etário (REVICKI & ISRAEL, 1986).

Como o Jiu-Jitsu é subdividido em categorias de massa corporal (kg), a estimativa da composição corporal de atletas representada pelo IMC, permite analisar a possibilidade de um atleta reduzir seu peso corporal objetivando competir em uma categoria abaixo da sua, que engloba sujeitos com menores níveis de massa corporal, evitando a ocorrência de significativa diminuição de massa muscular e/ou desidratação, sabendo que uma baixa quantidade de gordura corporal é recomendada na maioria das modalidades esportivas (FRANCHINI et al, 1997).

Em relação às variáveis antropométricas, os dados aqui apresentados assemelham-se significativamente com estudo realizado por Franchini, Takito & Kiss (2000), que analisaram as variáveis antropométricas de oito Judocas treinados, com média de idade de 15,6±1,0 anos, massa corporal de 64,0±5,6kg e estatura de 1,7±0,5m. Percebe-se que nos dois estudos as estaturas dos sujeitos avaliados apresentam-se semelhantes em relação ao desvio padrão, o que pode ser explicado tendo em vista a proximidade das faixas etárias abordadas.

Em relação ao IMC, Franchini, Takito & Kiss (2000) encontraram valores de 21,38 ± 2,3 kg/m2 no grupo avaliado. Já Benavent, Carqués e Carratalá (2003), em estudo realizado com trinta e nove atletas do sexo masculino, pertencentes à Seleção Espanhola de Judô, encontraram valores de IMC de 20,88±3,12 kg/m2 para a categoria infantil e 23,42±3,51 kg/m2 na categoria juvenil. Percebe-se que, quando comparado ao nosso estudo, esta variável apresenta uma correlação entre os três estudos, fato explicável pela homogeneidade dos grupos e o esporte abordado.

O consumo máximo de oxigênio ou potência aeróbia máxima (VO2máx), representa a maior quantidade de ATP que um indivíduo pode ressintetizar de forma aeróbica, definido como a velocidade em que o oxigênio é consumido (DANTAS, 2003). Pollock & Willmore (1993) demonstram a existência de diversos métodos classificados como diretos e indiretos, que objetivam mensurar essa variável funcional, na maioria deles exigindo a realização de esforços físicos em seus testes. O método direto (Ergoespirometria) determina o VO2máx de um indivíduo através de coleta dos gases inspirados e expirados (troca gasosa) durante um exercício com alta intensidade e duração. Os métodos indiretos utilizam equações matemáticas, ou também testes físicos, que estimam o VO2máx a partir de outras variáveis fisiológicas como a freqüência cardíaca (FC), medidas antropométricas como massa corporal e estatura, e/ou dados do rendimento no exercício, como a distância máxima percorrida, o tempo de resistência à um esforço, a freqüência de movimentos, geralmente obtidos em esforços submáximos.

Atualmente, um sujeito, para ser considerado “treinado”, deve apresentar um valor mínimo de Vo2máx de 40ml/kg/min-1, ou valores superiores a este (LEITE, 2000). O resultado obtido em nosso estudo demonstra que mesmo sabendo que a faixa etária aqui abordada é, de forma relativa, considerada baixa, o nível de condicionamento apresentado nesta variável foi muito satisfatório, o que levou à classificação de treinados, atingindo score médio de 39,5±3,7 ml/kg/min-1. Vale ressaltar que os valores de VO2máx tendem a aumentar de acordo com o crescimento e desenvolvimento físico em crianças e adolescentes, assim como a potência aeróbica relativa tende a decrescer com o aumento da massa corporal (MACHADO; GUGLIELMO & DENADAI, 2002). Os atletas de judô, pertencentes às categorias meio pesado e pesado apresentam scores de VO2máx relativo abaixo dos valores de atletas de outras categorias (FRANCHINI, 2001).

Segundo Franchini (1999), alguns estudos foram realizados objetivando identificar os níveis de potência aeróbia de atletas competidores de Judô. A partir da análise destes estudos o autor conclui que mesmo sendo a capacidade aeróbia importante para esta arte marcial, a mesma não exige valores muito elevados de VO2máx. (65 ml/kg/min-1 para homens e 55 ml/kg/min-1 para mulheres), o que não indica que valores superiores aos identificados possam trazer algum tipo de vantagem durante uma luta.

Mesmo sendo o método empregado para a avaliação cardiorrespiratória neste estudo ainda não ser amplamente utilizado ou conhecido, o que pode gerar críticas no meio científico, deve ser ressaltado que o Ownindex Polar® foi testato e validado em estudos recentes (CROUTER; ALBRIGHT & BASSETT, 2004; CRUMPTON et al, 2003), que mostraram suas vantagens na rapidez na sua execução, na segurança e também pelo dato de não ser necessário expor o avaliado a um esforço físico ao qual não está habituado, sendo este aspecto um fator determinante nos resultados do teste (GODOY E BARROSO, 1999). Porém, para uma perfeita execução deste teste, é necessário que ao inserir os dados no instrumento (monitor), o avaliador estime de maneira mais precisa possível a classificação do avaliado em relação ao seu estado atual do nível de atividade física (GODOY E BARROSO, 1999).

O teste de impulsão horizontal objetiva mensurar, de forma indireta, a máxima potência muscular desenvolvida pelos membros inferiores. Neste estudo os dados apresentados (1,9±0,4m) comprovam que o grupo avaliado apresentou bons resultados nesta variável, obtendo um desempenho superior quando comparado aos dados apresentados por De Preux e Guerra (2006), que avaliaram trinta e cinco atletas de judô, do sexo masculino, pertencentes a equipe do Unileste (MG), com idades compreendendo a zona entre sete e treze anos, que apresentaram valores médios de 1,5±0,25m na impulsão horizontal, ressaltando que não foram encontradas na literatura maiores abordagens sobre este tipo de avaliação funcional aplicadas em esportes de combate. Tel diferença apresentada pode ser explicada pelo fato de que a faixa etária avaliada no estudo apresentado por De Preux e Guerra (2006) é relativamente menor do que a amostra avaliada em nosso estudo.

O termo “força muscular” é normalmente utilizado para descrever a capacidade da fibra muscular em exercer uma tensão decorrente de uma necessidade funcional. Tal valência pode ser classificada de três formas de acordo com sua manifestação: força isométrica, força isotônica e força isocinética (FLECK & KRAEMER, 1999).

Nos movimentos aplicados no Jiu-Jitsu, que utiliza-se de valências físicas como resistência muscular localizada (RML), flexibilidade, etc, a qualidade física “força” se mostra de suma importância para o melhor rendimento físico de seus praticantes, principalmente a força de preensão manual aplicada em lutas que exigem maior contato entre os atletas (FRANCHINI, 1999).

Sabendo que esta característica funcional pressupõe o nível de força total que um corpo pode apresentar (BALOGUM et al, 1991; DURDWARD et al, 2001; NAPIER, 1983; TERAOKA, 1979), além de ser um importante instrumento de avaliação do estado nutricional de um indivíduo (KLIDJIAN et al, 1980; FIGUEIREDO et al, 2000).

Esta manifestação funcional neuromuscular é uma medida relacionada à força isométrica, que é caracterizada pelo emprego de uma força máxima sobre um objeto, fazendo com que um músculo realize uma contração, permanecendo tensionado por um curto período de tempo (SCHLUSSEL et al, 2008).

Há anos vários instrumentos de avaliação da força foram projetados e construídos, sejam eles de construções simples (equipamentos de pressão sanguínea), ou que apresentam maior complexidade (sistemas informatizados). Bechtol (1954) projetou, desenvolveu e construiu um equipamento altamente eficiente para mensuração da força de preensão manual, o dinamômetro manual JAMAR®, que é, atualmente, recomendado pela Associação Americana de Terapeutas de Mão (ASHT) para avaliação desta variável, sendo o dinamômetro JAMAR® considerado, segundo Mathiovetz et al (1984), o instrumento mais confiável para uso em avaliações deste tipo.

Neste estudo, os resultados apresentados para a força de preensão manual foram 35,4±14,0 Kg/f, semelhantes, considerando o desvio padrão apresentado, ao estudo realizado por Franchini, Takito e Pereira (2003), que avaliaram atletas-competidores de Jiu-Jitsu, com 25±5,8 anos de idade, 175,2 ± 6,4 cm de estatura, 76,7±11,2kg de massa corporal, e 42±25,2 meses de prática de Jiu-Jitsu, apresentando média de 47,3±6,7kg/f nesta variável, valendo ressaltar que, segundo a literatura, os valores de tal valência se mostram diretamente proporcionais em crescimento de acordo com idade até os trinta e dois anos, onde apresentam um declínio após este teto (limite) etário (DURDWARD et al, 2001). Em estudo similar, apresentado por Franchini, Takito & Kiss (2000), que avaliaram atletas de Judô, as médias de 38,3±6 kg/f de força de preensão manual foram encontradas em fase pré-competitiva (preparatória), o que corrobora com os dados apresentados em nosso estudo, mostrando a grande equivalência de valores médios entre os grupos avaliados em ambos os estudos, tendo em vista o desvio padrão apresentado em ambos.

Segundo Roemmich & Sinning (1996), que apresentaram um estudo realizado com atletas adolescentes de Luta Olímpica, afirmam que os níveis de força de preensão manual não apresentaram mudanças significativas nas fases inicial, média e final do período competitivo, o que não foi observado por Franchini, Takito & Kiss (2000), que avaliaram atletas de Judô em plena adolescência, que mostraram que os níveis de força de preensão manual apresentaram um crescimento com o decorrer das fases de treinamento, o que pode ser justificado pelo fato de que no Judô, assim como no Jiu-Jitsu, os atletas realizam constantes picos de contração isométrica através das variadas pegadas realizadas nos quimonos dos adversários, o que não ocorre com tanta constância na Luta Olímpica, onde os atletas realizam movimentos de preensão manual na superfície dérmica do adversário, o que tende a dificultar significativamente uma constante preensão isométrica em cada movimento (FRANCHINI, TAKITO & KISS, 2000).

Conclusão

Em função da escassez de referenciais bibliográficos, os resultados apresentados em nosso estudo contribuem significativamente para uma melhor compreensão desta arte marcial, de forma que treinadores e profissionais da área de educação física devidamente capacitados possam utilizar estes dados como valores de referência para avaliações a serem realizadas com seus atletas dentro da faixa etária abordada, proporcionando identificar o nível atlético que os mesmos apresentam em um determinado momento, objetivando assim o desenvolvimento de planejamentos físicos, técnicos e treinamentos específicos mais eficazes para este público.

Cabe ressaltar que o fato de o índice de massa corporal (IMC) do grupo avaliado apresentar valores pouco acima da classificação “normal”, o que poderia indicar um fator de risco para a saúde (obesidade), é explicável pela grande presença de massa muscular em atletas praticantes de Jiu-Jitsu, o que acarreta em um aumento significativo da relação entre massa corporal total e estatura, ocasionando assim, valores de IMC acima do padrão.

Recomendamos que futuros estudos a serem realizados nesta modalidade, abrangendo mais sujeitos, gênero e faixas-etárias variadas, abordando dados antropométricos como somatotipo, composição corporal e circunferências segmentares possam ser realizados, objetivando apresentar uma maior gama de informações sobre esta arte marcial.

Anatomia no Jiu-Jítsu e MMA





Para um trabalho bem planejado de preparação física conseguir suprir eficientemente as necessidades quanto à preparação técnica (de fato, a parte mais importante para lutadores), antes de qualquer coisa devemos selecionar os exercícios que serão utilizados.

Para isso, o princípio da especificidade deve ser respeitado como um dos principais critérios desta seleção. Afinal, será que lutadores utilizam os mesmos músculos e do mesmo modo que, por exemplo, jogadores de futebol solicitam em seus movimentos? Claro que não.

Assim, apesar de todos os avanços científicos nos meios e métodos utilizados com atletas de modalidades de combate, conceitos básicos como a observação das técnicas em referência à anatomia do movimento às vezes são negligenciados.

Bem devagar, aos poucos, estamos trabalhando em um projeto aprofundado cujo objetivo é trazer luz baseados em conceitos de anatomia aplicados às técnicas de lutas. De toda sorte, a previsão deste lançamento - em livro - será somente para 2012 ou 2013.

No entanto, não custa tentarmos resumir alguns pontos-chave para aplicação de conceitos de anatomia do movimento no Jiu-Jítsu e MMA, em especial sobre os grupos musculares associados às principais técnicas. Para facilitar o entendimento, sugerimos que observem os músculos ilustrados na figura que acompanha este artigo.

Lembramos que nossa análise será sucinta, pelo fato de que, se considerarmos as variações de técnicas e estilo de cada lutador e o fato de que, em muitos golpes, cada segmento corporal realiza movimentos diferentes, a probabilidade de combinações pode ser infinita.

Além disso, em algumas técnicas, existem mais de um músculo primário sendo solicitados; entretanto, para abordagem mais generalizada, nos atemos propositadamente somente aos músculos principais. Desse modo, apesar de se estabelecer que todos os grandes grupos musculares – tórax, costas, coxas e pernas, etc. – devam ser treinados, pois são exigidos durante os combates, procuramos esclarecer quais são as regiões mais solicitadas e, eventualmente, os tipos de ações musculares características dos golpes nessas modalidades.

Jiu-Jítsu

Nos momentos iniciais de um combate o que ocorre, de modo geral, é a possibilidade de o atleta projetar o oponente ou puxá-lo para sua guarda.

Principais músculos solicitados (técnicas de projeção) - Membros inferiores (músculos da cintura pélvica, coxa, perna e pé); região lombar e abdominal (solicitação ligeiramente inferior comparada à região lombar); região das costas (grande dorsal) e do tórax (peitoral maior).

Embora realizem algum trabalho de força máxima ou potência, de modo geral, as musculaturas do antebraço, região lombar, abdominal e pescoço, realizam trabalho de resistência muscular, porém com característica estática ou isométrica (Exemplo: Quando o atleta faz “pegada” no quimono do adversário, ele segura de 1 a 5 segundos – força isométrica – e solta, repetindo constantemente esse procedimento – resistência muscular).

Ainda, embora realizem algumas ações isométricas, as constantes mudanças de direção impõem maior demanda na resistência muscular para as musculaturas anteriores e posteriores do tronco e braços (grande dorsal, peitorais, bíceps e tríceps).

Salienta-se que grande parte dos golpes de projeção envolve rotação e, especialmente, a região lombar e abdominal sofrem grande demanda da capacidade de resistência e aplicação de força rotacional (aplicação de força em movimentos de rotação do corpo no próprio eixo, ou seja, entre a porção superior e inferior).


Principais músculos solicitados ("puxar para guarda") - ações de potência (para o salto de puxada) e/ou resistência muscular de baixa intensidade (nos deslocamentos no tatame) e força isométrica ou estática dos membros inferiores (ao comprimir as pernas ao redor do corpo do adversário – “fechar a guarda”). Além disso, ações de potência da região lombar e abdominal (para se defender de tentativas de projeção por parte do adversário).

Ainda, ações de potência da musculatura das costas e do tórax (respectivamente, no movimento de puxada para a guarda fechada e quando empurra o adversário para evitar ser projetado); ações de força máxima do bíceps (braquial e braquiorradial) e tríceps e, por fim, ações isométricas e de resistência muscular do antebraço, região lombar, abdominal e pescoço.

Principais músculos solicitados (técnicas de solo) - No solo, alternam-se constantemente ações dinâmicas e isométricas (para estabilização de alguma posição). Quanto às ações dinâmicas, há necessidade de força máxima e/ou potência para executar, por exemplo, um golpe de “raspagem”, passagem de guarda ou finalização.

Quando o atleta está por baixo (“fazendo guarda”) observa-se solicitação da região abdominal e lombar nas tentativas de raspagem ou defesa da guarda e dos adutores dos quadris ou “virilha” para manter o adversário na sua guarda (força isométrica). Ainda, das costas e tórax para puxar e empurrar na tentativa de concretizar algum golpe, do pescoço/trapézio e antebraços, respectivamente, para defesa de finalizações e “pegada”. Além disso, observa-se, frequentemente, a solicitação dos membros inferiores na tentativa de “raspar” ou inverter o adversário e também de “repor a guarda”.


Por cima, o atleta que, por exemplo, tenta passar a “guarda alta”, “toreando”, solicita os membros inferiores na tentativa de passar a guarda do adversário, as costas e o peitoral maior para manter sob controle as pernas do adversário e executar a passagem. Ainda, é solicitada a região lombar e abdominal para manutenção do equilíbrio e postura, evitando as tentativas de “raspagem” ou inversão. Além disso, é observada a solicitação do pescoço/trapézio para “fazer postura” para passagem de guarda e na defesa das tentativas de finalização do adversário por estrangulamento. Os antebraços são solicitados para a execução da “pegada”, envolvendo ações que caracterizam o uso da força isométrica, dinâmica e de resistência muscular.

Salienta-se que grande parte das posições de raspagem, reposição de guarda, passagem de guarda, finalização, etc. envolve rotação, solicitando principalmente a região lombar, abdominal, deltóides e membros inferiores. Desse modo, o trabalho de preparo físico e técnico para aplicação e resistência às forças rotacionais é de suma importância para atletas dessa modalidade.

Vale-Tudo ou MMA

Nessa modalidade, são válidas ações técnico-táticas de três estilos de modalidades de combate – luta de projeção, de solo e de contato. Assim, por já tratarmos sobre as ações e regiões musculares mais solicitadas nos dois primeiros estilos, vamos concentrar nossas explicações sobre o terceiro estilo.

Em referência à utilização de golpes traumáticos, os membros inferiores tendem a ter ações de baixa intensidade (deslocamentos no ringue) e de potência: (a) para antecipação, ou seja, execução de golpes antes que haja ação do adversário; (b) nos golpes realizados especificamente pelos membros inferiores – chutes; (c) pela transferência de energia cinética, aumentando a força e velocidade nos golpes com solicitação de membros superiores – socos.

Quando um atleta desfere um chute frontal, “canelada”, joelhada, etc. a perna de ataque perde contato com o solo e uma única perna constitui a base de apoio, implicando manutenção do equilíbrio em apenas um pé. Além disso, quando o atleta realiza uma combinação sequencial de golpes (Ex: “canelada” seguido de socos) e a perna de ataque não retorna ao contato com o solo, é preciso que a musculatura dessa região seja capaz de manter a estabilidade, enquanto o restante dos segmentos efetua ação de grande potência.

Quando o atleta realiza um chute com extensão do joelho (Ex: chute frontal, canelada, etc.), os músculos mais solicitados são os extensores do joelho e flexores do quadril da perna de ataque (musculatura anterior da coxa – quadríceps femoral, iliopsoas, sartório e tensor da fáscia lata), além da região lombar e abdominal (solicitados para manutenção do equilíbrio e postura).

Quando o golpe é realizado somente com flexão do quadril (Ex: joelhada), além da região lombar e abdominal, os músculos mais solicitados são os flexores do quadril (musculatura anterior da coxa – reto femoral, iliopsoas, sartório e tensor da fáscia lata). Na perna que permanece apoiada sobre o solo, os músculos mais solicitados são os extensores do quadril e do joelho (glúteos e musculatura posterior e anterior da coxa), além dos flexores plantares (“panturrilha” - gastrocnêmio e sóleo).

Quanto aos golpes traumáticos com solicitação de membros superiores, observamos a necessidade de grande resistência muscular e potência, especialmente dos deltóides, tríceps e peitoral maior (socos em linha reta – Jab e Direto); bíceps (braquial e braquiorradial), antebraços, deltóides e peitoral maior (socos em ângulo e golpes com antebraço – gancho, upper, cruzado e cotovelada), além de resistência muscular de característica isométrica nos deltóides para manter a guarda alta (braços elevados com as mãos próximas do tórax e da cabeça).

Os músculos abdominais e lombares, além de serem solicitados para manutenção do equilíbrio e postura, transferem a potência iniciada pelos membros inferiores – energia cinética ou do movimento – para as costas e braços, aumentando a força e velocidade dos golpes.

Por fim, os movimentos de esquiva (pêndulo, flexão e extensão do tronco, flexão do tronco lateralmente, etc.) solicitam principalmente a região lombar, abdominal e o grande dorsal. Além deles, os membros inferiores também contribuem, contudo sua solicitação é ligeiramente inferior.


Conclusão

Baseados nessas informações iniciais (resumidas) para reflexão, o(s) treinador(es) em conjunto com o preparador físico do atleta pode auxiliar a direcionar a escolha dos exercícios versados na especificidade e, ir mais longe, ajustando às características individuais do lutador (individualidade biológica) para desse modo conseguir atingir seus objetivos o mais próximo possível da realidade da luta e do atleta em questão.

MMA, Jiu-Jitsu, Judô e Submission: Bandagem Funcional pode prevenir reincidência de lesões no Joelho

Maurício Shogun na época em que teve de se submeter a uma cirurgia para corrigir lesão no ligamento cruzado anterior de seu joelho esquerdo.


No MMA, Jiu-Jítsu, Submission e Judô, por serem práticas de intenso contato físico, a ocorrência de lesões ligamentares do joelho tende a ser maior e mais grave comparados aos esportes onde não há contato como voleibol e tênis de mesa, por exemplo. Dentre diversos ligamentos do joelho (veja imagem adiante), a ocorrência de lesões no ligamento colateral medial (LCM) é elevada. No livro Pronto Pra Guerra apresentamos referências dessas lesões com atletas de Jiu-Jítsu.

Ligamentos do Joelho

Em artigo prévio, os autores, todos japoneses, procuraram associar uma técnica denominada de Taping, também conhecida no Brasil, dentre outras nomenclaturas, como “bandagem funcional” com a prevenção de lesões e alivio de dor (além de segurança subjetiva psicológica) de lutadores. Essa técnica japonesa não invasiva e de baixo custo tem o objetivo de ser o mais funcional possível, ou seja, por meio de fixação de fitas de esparadrapos sobre a pele, promover ótimo posicionamento do segmento e/ou alívio imediato de dores, sem no entanto, restringir a articulação, apenas limitando o movimento indesejado ou o sintoma relatado pelo atleta, mantendo a mobilidade articular.
Taping

No artigo, os pesquisadores relataram que utilizaram a técnica com obtenção de resultados favoráveis com 5 atletas de modalidade de combate (Judô) com lesão grau 1 ("rasgo" incompleto sem instabilidade lateral) e grau 2 (ruptura parcial com ligeira instabilidade lateral). Além disso, afirmaram que os lutadores já haviam recebido permissão médica para o retorno à prática quando aplicaram a técnica. Ressaltaram ainda que, apesar de indícios bem positivos e favoráveis, desejam aprofundar os estudos e introduzir a técnica em escala maior.






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Lesões no MMA



Não importa se é iniciante, intermediário ou atleta de elite. Infelizmente, no caso de lutas, especialmente no MMA, a principal pergunta a ser respondida não é “se” o atleta vai se lesionar, mas “quando” isso vai ocorrer.

Dentre as principais lesões que podem acometer o lutador de MMA, em diversos estudos foi observado que a laceração ocorre com grande incidência. Laceração é uma lesão com sangramento resultante de corte da pele até o tecido subcutâneo, decorrente de golpe traumático – soco, chute, joelhada, cotovelada, etc. Na face, geralmente ocorre maior incidência nos lábios e olhos. Nesse contexto, vale ressaltar que golpes com o joelho e cotovelo (“joelhada” e “cotovelada”, respectivamente) podem produzir cortes mais profundos do que socos

Não são raros os casos no MMA em que a luta é interrompida caso haja sangramento de um dos atletas. Caso o sangramento seja excessivo e persistente, o lutador pode até ser declarado perdedor por ser considerado incapaz de prosseguir no combate. Essa medida visa preservar a integridade física dos atletas. Esse foi o motivo alegado pelos juízes na primeira derrota no MMA do lutador russo Fedor Emelianenko.

O juiz, em consenso com o médico do evento, pode interromper o combate caso haja sangramento excessivo se:

(a) Fornecer vantagem desleal para o adversário;

(b) A origem do sangramento for corte profundo, podendo causar danos irreparáveis;

(c) O lutador continua recebendo golpes contundentes pelo adversário no mesmo corte, em todos os rounds.

Cortes profundos são perigosos, pois podem requerer cirurgia plástica, internação hospitalar, antibióticos intravenosos e dreno pendurado no ferimento durante alguns dias.

Para amenizar ou interromper o sangramento, algumas estratégias utilizadas há muitos anos por médicos de boxeadores profissionais devem ser consideradas no MMA.

Incidência de lesões no Brasil Fight MMA

No Brasil, a prática de MMA vem crescendo a cada ano. Os lutadores estão se profissionalizando e inúmeros eventos de MMA acontecem em todo o país. Porém, paralelo a esse crescimento, faltam dados referentes às lesões ocorridas no MMA brasileiro, sendo o objetivo deste texto descrever as lesões ocorridas no Brasil Fight MMA.

O evento aconteceu no sábado, dia 13 de março, em Belo Horizonte. Reuniu 17 lutadores profissionais de MMA brasileiros e um lutador profissional americano. Destes, 10 lutadores, representando aproximadamente 60%, sofreram lesões que necessitaram de atendimento fisioterápico imediato após o término das lutas.

Foram diagnosticadas um total de 17 lesões importantes, uma média de 1,7 por lutador. Dessas, 52,94% foram contusões, 17,64% cortes, 11,76% entorses e 11,76% estiramentos.

Em estudo realizado no Ultimate Fighting Championship (UFC), lacerações na face foram as lesões mais prevalentes, representando 47,9%. No Brasil Fight MMA, a articulação do tornozelo foi o segmento corporal mais lesionado, representando aproximadamente 30% das lesões. A articulação do joelho, coxa e face ficaram logo atrás, representando 12% cada. Lesões de tórax, braço, cotovelo, mão, perna e nariz representaram 6% cada.

Quanto ao mecanismo de lesão, 53% ocorreram devido ao golpe do lutador adversário, sendo 62,5% chutes e 37,5% socos. 47% das lesões ocorreram devido ao golpe do próprio lutador, sendo 44,44% chutes, 33,33% socos, chave de perna e queda 11,11% cada.

O atendimento fisioterápico imediato foi realizado de acordo com cada lesão. A crioterapia (gelo) foi a conduta mais utilizada, com objetivo de reduzir a dor e edema. Bandagens funcionais também foram muito utilizadas, para estabilizar as articulações lesionadas.

Estudos sobre lesões no MMA brasileiro são fundamentais para melhorar a reabilitação dos lutadores e também para criar medidas preventivas, a fim de reduzir a ocorrência de lesões.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Cientistas americanos encontram células-tronco no pulmão

Descoberta pode gerar novos tratamentos contra doenças crônicas.
Células conseguiram reparar tecidos danificados em camundongos.

 

Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos encontrou células-tronco onde até agora elas nunca tinham sido vistas: o pulmão. A descoberta pode render, no futuro, novas opções de tratamento para quem sofre de doenças pulmonares crônicas ao regenerar áreas doentes do órgão, segundo um dos autores do estudo, Piero Anversa, diretor do Centro de Medicina Regenerativa do Hospital de Brigham, afiliado à Universidade Harvard.
A pesquisa foi apresentada na edição desta semana da revista médica “New England Journal of Medicine”.
A equipe de Anversa estudou tecidos pulmonares retirados após cirurgias e conseguiu isolar as células-tronco, que se mostraram capazes de se dividir tanto em novas células-tronco quando em outras que formariam tecidos pulmonares.
Para testar a eficácia de uma futura terapia, eles injetaram essas células-tronco em camundongos com danos pulmonares e viram a formação e integração estrutural de novos bronquíolos e alvéolos.
“Ainda é preciso pesquisar mais, mas estamos animados com o possível impacto que essa descoberta pode ter na nossa capacidade de regenerar ou recriar tecidos pulmonares em áreas doentes do pulmão”, disse, em nota, Joseph Loscalzo, coautor da pesquisa.

 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Complicações Ortopédicas no uso do Hormônio de Crescimento


Desde a introdução do Hormonio do Crescimento em sua forma recombinante, seu uso é diverso e esta se multiplicando. É a forma de terapia indicada para todos os tipos de baixa estatura porque atua de forma direta e indireta no crescimento ósseo.

Entretanto existem complicações ortopédicas durante seu uso em pacientes pediátricos. São as principais: Síndrome do Túnel do Carpo (STC), doença de legg perthes, Escoliose e Epifisiólise do Quadril. A etiológia dessas complicações é desconhecida.

O link patológico entre o GH e essas complicações não é bem estabelecido, assim como a sua incidência. Como a STC e a doença de legg perthes são raras na população é de dificíl avaliação o aumento da sua incidência durante o uso do GH.

Apesar da segurança do uso do GH, é aconselhável sua parada na ocorrência da Dça de Perthes e na progressão de uma escoliose.
Finalmente, é recomendável se manter alerta da possibilidade dessas complicações durante o uso do hormônio. Isso é extremamente importante de se reconhecer na presença de uma Escoliose e uma Epifisiólise do Quadril, que podem trazer problemas graves futuros a esses pacientes.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Obesidade na idade adulta aumenta riscos de Alzheimer

Adultos que estão acima do peso ou obesos têm até quatro vezes mais chances de desenvolver Alzheimer quando idosos

Pessoas com IMC acima dos 30 na idade adulta apresentam até quatro vezes mais riscos de desenvolverem algum tipo de demência quando idosos

Pessoas que estão acima do peso ou obesas na idade adulta têm quatro vezes mais riscos de desenvolver Alzheimer e outras doenças do tipo quando idosos. De acordo com um novo estudo publicado no periódico Neurology, variáveis como fatores genéticos e ambientais podem contribuir para a relação entre o acúmulo de gordura e os problemas neurológicos. Dados da pesquisa apontam ainda que existem hoje no mundo cerca de 1,6 bilhões de adultos acima do peso.
Durante a pesquisa, foram analisados dados de 8.534 voluntários acima dos 65 anos. Desses, 350 foram diagnosticados com Alzheimer e outros 114 com possível casos de demência. Informações como altura e peso nos anos anteriores à pesquisa também foram levados em consideração. Os cientistas descobriram, então, que entre aqueles que estavam acima do peso, os riscos de Alzheimer eram 80% maiores. Para os obesos, aquelas pessoas com índice de massa corporal (IMC) acima de 30, os riscos eram quase quatro vezes maiores, ou 300%.
Segundo Weili Xu, pesquisadora do Instituto Karolinska, na Suécia, que coordenou o estudo, não foi possível estabelecer exatamente como o sobrepeso e a obesidade prejudicam o cérebro. Entre as hipóteses levantadas, no entanto, está o fato de que o excesso de gordura está associado ao diabetes e às doenças vasculares, condições que aumentam os riscos de demências. Há ainda a hipótese de que o tecido gorduroso, maior produtor de hormônio do corpo, pode gerar moléculas inflamatórias que poderiam afetar as funções cognitivas ou mesmo o processo de neurodegeneração.
Fonte:Revista Veja

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Terapia com células-tronco em paraplégicos


Procedimento inédito consiste na aplicação de células retiradas da medula óssea do próprio paciente no local do trauma.



Após quatro anos de testes em animais domésticos, uma terapia inédita para devolver sensibilidade a vítimas de trauma raquimedular - lesão que causa comprometimento da função da medula espinhal - começa a ser testada em seres humanos na Bahia. O tratamento, desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-BA), em parceria com os Hospitais São Rafael e Espanhol e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), consiste na aplicação de células-tronco mesenquimais, retiradas da medula óssea da bacia dos próprios pacientes, diretamente na região onde ocorreu o trauma.

O procedimento foi testado inicialmente em dois gatos, no início de 2007, que não tinham sensibilidade nem controle da musculatura do abdome à cauda. Em um mês, os animais recuperaram a sensibilidade. Um deles voltou a ficar sobre as quatro patas quinze dias após o início do tratamento.
No total, dez animais domésticos, entre cães e gatos, foram submetidos ao procedimento. Todos haviam perdido completamente os movimentos dos membros inferiores após traumas. Monitorados por um ano, eles recuperaram a sensibilidade dos membros e o controle da bexiga. A maioria também voltou a se sustentar sobre as quatro patas e alguns ensaiaram passos.
O primeiro paciente humano a ser submetido à terapia é um policial militar de 45 anos, que perdeu a sensibilidade dos membros inferiores há cinco anos, após cair do telhado. Ele recebeu uma cultura de células, cultivada por um mês, no dia 14 de abril. Agora, passa por duas sessões diárias de Fisioterapia e está sob monitoramento.
Além dele, 19 voluntários serão submetidos ao teste nesta fase, que deve seguir até o fim do ano. Os pacientes são escolhidos com base em um perfil bastante específico, que inclui itens como trauma fechado (sem exposição da medula), ocorrido há mais de seis meses e que resultou em paraplegia completa.

Fonte: Revista Veja

domingo, 1 de maio de 2011

DESABAFO de um Fisioterapeuta!!!!!

Para refletir:

Fisioterapeuta precisa de dinheiro?

É surpreendente, mas fisioterapeuta também paga impostos, alimentação, combustível, manutenção do carro,vestuário, tem filhos, família, moradia e etc. 
E uma mais um detalhe: Os livros, os cursos de atualização, o consultório e as coisas que ele tem não chegam até ele gratuitamente, muito pelo contrário, educação na área de saúde custa caríssimo. Impressionante, não? Entendeu o motivo dele cobrar uma consulta? Evite consultas casuais.
Pode parecer inacreditável, mas mesmo que tenha se formado em uma universidade pública, o fisioterapeuta gastou uma soma considerável em sua formação. 
Livros, equipamentos, cursos extra curriculares, alimentação, transporte, etc. não foram gratuitos. Essa soma foi utilizada a título de investimento. 
E todo investimento tem que ter retorno financeiro. Se você quer consulta grátis, existem fisioterapeutas remunerados pelo governo, atendendo pelo SUS. procure-os.
E não é só o investimento financeiro, houve uma longa carga horária de faculdade, estágios supervisionados, trabalhos, muitas vezes nos finais de semana, mesmo de férias, em pleno verão, privando-se da companhia de família, amigos, namoradas, noites sem dormir ou mal dormidas debruçados sobre livros, pesados, grossos e de letras miúdas, com poucas gravuras.

Fisioterapeuta é um profissional, como outro qualquer, até os sacerdotes religiosos de qualquer tradição necessitam de dinheiro para o sustento não só próprio, como de seu estabelecimento. Não é ser mercenário, é ser realista e ter amor-próprio. Fisioterapeuta tem seus honorários regulamentados por um Conselho, tem piso salarial a serem cumpridos, e é praticamente de realizar gratuitamente o seu ofício, o que não o impede de realizar ações cívico-sociais. Nunca vi um colega deixar de prestar o socorro a alguém pela falta de pagamento, mas amigo que é amigo deve ser tratado respeitosamente e como profissional.
Existe o amor ao próximo, a entrega aos seus sentimentos e desejo de curar alguém para concretizar sua missão, mas existem contas a pagar.


Fisioterapeuta é massagista?

Não. Da mesma forma que engenheiro não é mestre de obras, farmacêutico não é balconista de farmácia, arquiteto não é decorador, fisioterapeuta não é massagista. Não me venha com papo “estou com uma com tensão nas costas… faz uma massagem"?”
Fisioterapeuta utiliza recursos terapêuticos manuais, faz manipulação ou manobras osteopáticas, digitopressão em triggerpoints, outros aplicam shiatsu sobre os meridianos energéticos e tudo parece massagem, mas não é. 
Tocar um instrumento musical não é manusear qualquer tecla, corda, bater num tambor ou soprar uma flauta ao léo, existem técnicas, frutos de anos de conhecimento, passados adiante, horas de treino e estudo. Tocar o corpo de outra pessoa profissionalmente, exige respeito e profissionalismo e tudo é regulamentado por leis e normas éticas.
Uma delicada bailarina sobre o palco é admirável, no entanto poucos se dão conta de que é necessário um treinamento constante, como de um atleta para se atingir o nível da perfeição.
Fisioterapeuta não faz massagem, utiliza os recursos manuais para otimizar o tratamento e aliviar a dor, de forma técnica e profissional.
É possível examinar um paciente pelo telefone?
Fisioterapeuta não é vidente. Ele precisa examinar pessoalmente, analisar a simetria do paciente, como um conjunto, pois uma "dor no ombro" pode estar correlacionada a uma diferença de tamanho dos membros inferiores, ou mesmo no tipo de marcha do paciente (como ele pisa), se o ombro é anteriorizado, se há escoliose, cifose, lordose ou outra disfunção qualquer que esteja correlacionada. Mesmo assim,  o paciente e muitas vezes precisa reavaliado. É importante que seja observado o tônus muscular, a perimetria, avaliar goniometricamente de forma comparativa, apalpar a região dolorosa entre uma série de outras possibilidades avaliativas. Se quiser sedar a dor de forma rápida e paliativa, tome o analgésico ou anti-inflamatório prescrito pelo médico.
Fisioterapeuta dorme?
Pode parecer estranho, mas fisioterapeuta precisa dormir como qualquer outra pessoa. Não o acorde sem necessidade! Fisioterapeuta tem telefone em casa, onde ele tem que cumprir seus papéis familiares, de filho, de pai, de marido ou mesmo de amigo e terapeuta de si próprio. Ligue para o consultório, ou para o celular de trabalho, em horário comercial. Se você estiver com alguma emergência REAL, é admissível, mas lembre-se, neste caso o 190 é o número mais indicado, pois eles são preparados para isso e tem ambulância, com sirene e até as leis de trânsito permitem que eles cheguem mais depressa.
Fisioterapeuta come?
Inacreditável, não? Mas é verdade. Fisioterapeuta também se alimenta, e tem hora para isso. Como profissional de saúde ele deve acima de todos os demais dar o exemplo de disciplina e auto-cuidado.


Fisioterapeuta atende finais de semana e feriados?

Sim. pode atender. Desde que seja necessário, conforme o caso clínico e a indicação para isso. Desnecessário dizer que nesses casos o atendimento tem custo adicional. Negociar a forma de pagamento é adimissível, para atender as condições individuais de pagamento de cada cliente, mas lembre-se, que saúde não tem preço. Mais uma coisa, na hora de efetuar o pagamento, ao invés de ficar murmurando, reclamando ou pensando no que poderia ter sido comprado com aquela mesma quantia, lembre-se da dor que sentia antes, na dificuldade de movimento ou seja lá o que for do que foi ou está sendo curado. Lembre-se ainda que os fisioterapeutas cobram o que o serviço vale e cada um vale exatamente aquilo que cobra, se acha caro pagar determinado valor por uma consulta, existem outros "colegas" que também se "formaram" em fisioterapia atendendo, aos quais você pode pagar meros R$ 20,00, mas não reclame se ele ficar somente meia hora com você, utilizando-se de algum recurso eletrotermofototerapêutico, ao mesmo tempo em que dá atenção aos outros pacientes das demais dez macas de sua clínica. 
Aliás, quando isso acontece, é porque seu plano de saúde só paga a ele entre R$ 10,00 a R$ 15,00. 
Vale mais a pena pagar o preço justo por um tratamento sério, que RESOLVA o problema em poucas sessões.
Ler e estudar é trabalho?
É trabalho e é trabalho sério. A sua dor, a sua vida o seu corpo estão nas mãos de um profissional, que nunca poderá parar de se atualizar, em caso contrário, vai ficar abandonado num consultório assim como uma máquina de escrever do escritório do seu pai ou a caixa registradora da mercearia do Manoel. A ciência e a tecnologia tem avançado a seu favor e o fisioterapeuta precisa acompanhar as mudanças, para atendê-lo cada vez melhor. Por falar nisso, não estranhe se ele procurar um livro, ou artigo novo na internet, mesmo na sua frente e ir estudar melhor o seu caso, pois isso não é inexperiência, é profissionalismo, são inúmeros casos e patologias e a sua recuperação é importante para o sucesso profissional dele. Todo dia tem alguém fazendo uma nova descoberta, que é importante para você.
Fisioterapeuta tem vida social?
Sim, tem. Em reuniões de amigos ou festas de família, fisioterapeuta deixa de ser fisioterapeuta, vira apenas amigo ou parente. Não reclame de sua atrite, nem peça conselhos. Ele o mandará procurá-lo para resolver isso em seu consultório, em trajes adequados, com os equipamentos adequados onde ele poderá avaliar de forma precisa, refletir, se concentrar, ou seja, precisa trabalhar. Fisioterapeuta dá diagnósticos. É comum questionar o tratamento que vem recebendo e até admitissível  buscar uma segunda opinião, no entanto se um profissional fala mal de outro, ele já começa errando, por ser antiético, procure outro. No máximo um bom fisioterapeuta diria que cada um utiliza-se dos recursos e técnicas que conhece e estão ao seu alcance e dessa forma pode oferecer um tratamento mais adequado, sem desmerecer o trabalho do colega.
Não existe “o que o senhor me aconselha”. 
Conselho é prescrição, tem que ser pensado, estudado, individualmente e por sua vez, realizado, de forma assistida e consequentemente cobrado.


Fisioterapeuta não é médico.
Fisioterapeuta pode analisar um exame, um laudo médico, sugerir exames complementares, curar sua dor com recursos diversos, mas não receita medicamentos da indústria química farmacêutica, não faz cirurgias e nem um monte de outras coisas, mas tudo na arte de curar é medicina. A saúde engloba todos os aspectos do ser humano, suas emoções, suas sensações, sua forma de perceber e reagir ao mundo, de forma que tudo é multidisciplinar, não adianta o fisioterapeuta tratar de uma anteriorização de ombro e demais problemas posturais, se o paciente é de introspecção e postura perante o mundo emocionalmente, isso é cura para a psicologia, se o paciente é obeso, não adianta prescrever-lhe remédios "milagrosos" ou fazer cirurgias, se não forem mudados os seus hábitos alimentares através da educação de uma dieta equilibrada, saudável e disciplinada, aliada a exercícios fisicos regulares e determinação. Ninguém se cura sozinho, nem só com a ajuda do profissional de saúde, é uma atividade conjunta. O paciente também é responsável pela sua recuperação. 
Todos os profissionais, são da área de saúde, e quem disse que uma boa conversa com um leigo amigo, um desbafo, a leitura de um livro altruísta não é um medicamento que age diretamente na fonte de todas as patologias?

Médico não é fisioterapeuta.
Traga os exames, o diagnóstico, mas de forma alguma entregue nas mãos de um fisioterapeuta a prescrição do médico para o tratamento. Médico não é fisioterapeuta, não foi formado para isso, não sabe as indicações dos aparelhos, por isso muita das vezes "paga-mico" por se acha o semi-deus da saúde. Indicando, por vezes, "tratamentos" contra-indicados ou palpites muito abaixo da capacidade do profissional. Se pretender falar que "Mas o médico mandou fazer assim, isto ou aquilo", você não confia naquele profissional, sendo assim, procure outro. Fisioterapeuta não aplicador de ultrasson, nem TENS, nem laser, nem outro aparelho qualquer. Ele sabe a intensidade, o tempo e tudo mais que você precisa para se recuperar.

Fisioterapeuta é psicólogo?
Apesar de o fisioterapeuta ter estudado psicologia em sua grade curricular, ele não é a pessoa mais indicada para ouvir todos os seus problemas pessoais ou familiares, isso pode ajudar no seu tratamento, mas pode ser feito "um desabafo" com um amigo e resolve mais ainda uma indicação profissional. Apesar do seu fisioterapeuta ser na maioria das vezes um "ombro amigo", problemas emocionais, amorosos e familiares se resolvem em família ou com um psicólogo.

O celular do fisioterapeuta.
Celular do fisioterapeuta é uma ferramenta de trabalho. Sabemos que não há como adivinhar se o mesmo está em horário de atendimento ou não, se ele não o atender, compreenda que pode ser que ele não possa ser interrompido, aguarde que retorne a ligação. Usando de empatia, se você estivesse sendo atendido, provavelmente não gostaria de ter ser tratamento interrompido. Pode ser que o telefone do profissional esteja no modo vibracall ou mesmo desligado. 
Antes da consulta
É importante marcar um horário. Ficar andando de um lado para o outro na sala de espera ou nem pressionando a secretária é desnecessário e não faz efeito. Ninguém tem culpa da sua ansiedade. Não espere o "encaixe" no horário de quem já marcou. Se for possível, havendo falta ou desistência de alguém será atendido naquele horário. Caso seja "quebrado o galho" entre um paciente e outro, entenda que o tempo será reduzido e não receberá toda a atenção que merece. Não apareça de surpresa, ligue antes. Só venha sem marcar em caso de emergência (que seja realmente emergência), até mesmo porque fisioterapeuta tem pacientes domiciliares, acamados ou com dificuldades de se deslocar e o profissional pode não estar na clínica. Quanto ao horário de atendimento, se está marcado para as 11:00 h chegue no horário, pois o profissional estará a sua disposição deste horário até o próximo,  quando o próximo clente chegar pontualmente, é direito dele ser atendido, pois todos temos outros compromissos e este não pode se atrasar, por um descuido seu. Se o atendimento é até meio dia, não significa que você pode chegar 11:55 e deverá ser atendido. Chegando nesse horário, no máximo será convidado para o almoço, dependendo do seu relacionamento com o profissional. O mesmo vale na hora do fim do expediente. Na hora da consulta basta um membro da família para acompanhar o paciente para auxiliar a responder às perguntas do fisioterapeuta, não é um congresso e nem uma discussão, se ele é profissional confiável, vai ouvir a pessoa mais habilitada a falar, vai conversar, decidir, fazer e resolver.
Pode perguntar, mas não fique bombardeando o fisioterapeuta com milhares de perguntas durante o atendimento. Deixe que ele faça as perguntas e dê-lhe as respostas que ele precisa para elaborar sua estratégia de tratamento, para não tirar a concentração. Evite perguntas que não tenham relação com o problema específico. Infelizmente, a cada consulta, o fisioterapeuta só poderá examinar um paciente. 
Fisioterapeuta amigo
É muito comum, principalmente nos casos em que o tratamento é longo ou domiciliar, estreitarem-se os laços de amizade entre o fisioterapeuta e o paciente ou a família, todo fisioterapeuta já teve amigo que virou paciente e paciente que virou amigo. E amigo de verdade, é difícil manter a distância, quando vir um fisioterapeuta chorando no funeral de um paciente, não pense que é teatro, isso acontece e ele não se envergonha disso, deveria se envergonhar o profissional que trata o cliente como um "mercadoria", ou um patrão, nada além disso. Fisioterapeutas são humanos, envelhecem se aposentam e um dia também cumprirão a única certeza de todos os vivos, portanto, são seres emocionais. O fisioterapeuta é, na minha humilde opinião, o profissional mais Patch Adams da área de saúde, mas não é porque se tornou amigo, que vale pedir "um descontinho".

Emergência 
Claro que o fisioterapeuta atende, mas será uma consulta extra, dependendo do caso é de bom alvitre o reconhecimento de um esforço fora do horário previsto. 
Por último um assunto delicado: Fisioterapeuta se apaixona por paciente? 
Não há limites para o amor, pode acontecer. Mas duvide dessa hipótese e deixe para tratar de assuntos relacionados a isso, longe do consultório e se realmente tiver certeza de haver uma "possibilidade de correspondência de intenções". O profissional está ali para te curar e ponto final. Se avisarem para ir as consultas e a avaliação com roupas adequadas, que lhe facilitem o movimento e a utilização de aparelho, tais como roupas de ginástica, cumpra isso. Cada um se veste da forma que quiser, como está habituado, mas não vale apelar.
Para as mulheres, não adianta ir com aquela calcinha minúscula, ou mesmo sem ela, com roupas de lycra que destaquem o seu corpo ou decotes espetaculares. Evite os suspiros, caras, bocas e gemidos durante o momento do atendimento, a alteração da respiração e frequência cardíaca, rubor no rosto, já serão suficientes para o profissional perceber que está confundindo as coisas. Consultório não é lugar para sedução, realização de fetiches ou fantasias, para isso existe o motel. Não fique constrangida se o profissional resolver chamar a secretária ou outro colega para estar presente. Muitos profissionais de saúde já foram vítimas de processos de assédio, mesmo sem ter cometido e condenados a pagar indenizações ou perderam inclusive o direito ao exercício da profissão.
Para os homens, da mesma forma, sendo que a excitação, pode ser perceptível e a fisioterapeuta pode se constranger, conforme o caso e achar que se trata de uma ameaça, um tarado ou mesmo notar que você está mal resolvido. Procure manter o respeito, é uma boa dica.
Perceba que os fisioterapeutas do sexo masculino ou feminino, utilizam jalecos e por baixo deles roupas adequadas a um profissional, isso é também para não surtir efeitos indesejados. 
Apesar do fisioterapeuta tocar o seu corpo, sem muita cerimônia, isso é o trabalho dele, não confunda, ele está interessado em sucesso profissional, que é a sua cura e vê o seu corpo como área de trabalho e ponto final.

Profissionais estão em seus estabelecimentos para trabalhar e serem remunerados por isso
Cuide bem da sua saúde ou os fisioterapeutas e outros profissionais vão cuidar!!! Lembre-se que No mais “A SAÚDE NÃO TEM PREÇO”, mas tem custos.